Fonte: Desenvolvimento Humano – Diane E. Papalia e Sally W. Olds.
Aleitamento Materno e Desenvolvimento Psicológico da criança – Silvia Marina Anaruma-Depto de Educação instituto de
Biociências – UNESP – campus Rio Claro.
Em minha ultima postagem falei sobre a adolescência e a questão dos limites necessários a esta fase da vida. Pois bem, não é tão simples assim saber qual a medida destes limites que se pretende impor aos filhos.
adolescente entender o motivo da regra, da proibição ou do limite de horário para chegar em casa. Quando estas coisas são colocadas evidenciando a preocupação e o amor embutidos nestes atos, fica mais fácil obedecer. Por exemplo: você “pega no pé” dele para tirar boas notas, não porque você é chato, mas porque se preocupa com o futuro dele, afinal ele irá crescer, se decidir por uma carreira e o que esta aprendendo hoje vai ser muito útil para que seja bem sucedido neste caminho.
ovem: conformar-se ou rebelar-se. Mais fácil seria se os adultos conseguissem um equilíbrio entre ser coerentemente indulgentes e coerentemente firmes, sem tocar os dois extremos; aplicando leis de modo ponderado. Aqui cabe uma fase de alguém que aparentemente não tem nada haver com educação:. “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás (uma das frases mais conhecidas de che guevara - É preciso endurecer sem jamais perder a ternura). E é bem esta a medida que os pais deveriam encontrar : a firmeza daquilo que se espera da criança ou do adolescente, com o amor e a ternura que eles representam enquanto preocupação com o bem estar e o futuro dele.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como o período da vida que vai dos 10 aos 19 anos. Nesta fase ocorrem pelo menos três fenômenos importantes do desenvolvimento humano:
Uma questão crucial para os pais de adolescentes neste momento de tanta rebeldia e confusão é o tão falado “limite”. Os ataques frontais aos pais, vindos desta necessidade de independência da família, acabam por gerar críticas quanto a sua maneira de agir, vestir, amizades, gostos etc. Aproveitando essas circunstâncias o adolescente julga não haver vantagens em permanecer sob a proteção familiar como um escape para sua necessidade de independência. Embora esses ataques não visem destruí-los, mas apenas diferenciá-los. Esses adolescentes amam seus pais precisam de suas orientações e direcionamentos estabelecendo limites para seus próprios impulsos de independência.
Nos dias atuais qualquer pessoa ligada ao cotidiano, ou as práticas escolares, tem conhecimento sobre a “crise da educação”. Os profissionais da área falam da existência de tal crise, mas não apontam sua extensão nem razões exatas. Alguns pais se deparam de muito perto com esta tal crise e seu atual “vilão”: o “aluno-problema”, que traz consigo certos distúrbios psicológicos e/ou pedagógicos, de natureza tanto cognitiva quanto comportamental. Entre os profissionais da educação é bastante presente a queixa de alunos indisciplinados e/ou incapacitados para aprender. Tais alunos muitas vezes chegam já na segunda e terceira séries do ensino fundamental rotulados como “casos perdidos”.
Uma das principais queixas dos professores para os psicólogos escolares é o pedido de ajuda de como lidar com a “bagunça” e agressividade de alunos. Algumas considerações devem ser feitas a este respeito. A primeira é que o conceito de disciplina varia conforme a exigência de cada um. A segunda é o fato de que a indisciplina é geralmente referida como distúrbio, desvio, como se o natural fosse a disciplina. Contudo a transgressão e a agressividade são inerentes ao ser humano e fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, principalmente quando nos referidos a períodos como pré-adolescência e adolescência (o que será assunto para um próximo artigo). Obviamente este fato não dá a estas crianças o direito de agredir e transgredir o que quiserem e quando quiserem, a imposição de limites é também fator determinante para o bom desenvolvimentos das crianças e adolescentes. A questão dos limites por sua amplitude e complexidade também será abordado em separado brevemente.
Um estudo feito por Áurea Guimarães em 1985 analisa a escola como lugar onde a idéia de que a disciplina produz saber, mantém-se, e é aceita e praticada por todos os membros da instituição escolar desde a figura do diretor até a dos alunos. Desta forma os comportamentos de indisciplina, e por vezes de depredação dos alunos acusam o descontentamento e as críticas a toda a instituição escolar. A imagem social da escola, se encontra ameaçada, há uma espécie de mal estar e uma falta aguda de credibilidade profissional, a respeito dos profissionais da área. Nossos filhos escutam falas depreciativas a respeito da escola e dos profissionais de educação dentro de casa. Que imagem de professores e da escola os pais estão ajudando os filhos a formar? O de um lugar de aprendizado e respeito ao professor ou a de uma instituição decadente, sem recursos com profissionais desmotivados. Aquilo nossas crianças têm ouvido de nós e da mídia a cerca da escola e dos professores as ajuda a formar uma boa idéia do que é a escola de seu papel e importância? Ou só ajuda a denegri-la ainda mais reforçando a idéia de que não se deve respeitar este espaço? Esta é uma questão para que cada um pense e veja que escola tem “pintado” para seus filhos. Pois o que as crianças ouvem falar a respeito do que pensamos é muito relevante para a opinião que irão formar a respeito do mundo.
Este “fantasma” do fracasso parece rondar a educação, e atualmente tem-se dado a este
fantasma o rosto do “aluno-problema”. Este é aquele aluno que padece de certos supostos “distúrbios psico/pedagógicos”. Estes distúrbios podem ser de natureza cognitiva ou comportamental, nessa última categoria enquadra-se o que chamamos de indisciplina. Há ainda uma justificativa no meio pedagógico de que “se o aluno aprende, é porque o professor ensina; se ele não aprende, é por que não quer ou porque apresenta algum tipo de distúrbio, de carência, de falta de pré-requisito”. Aqui nos deparamos novamente com aquela linha de pensamento da culpabilização do indivíduo pelo fracasso, e de sua rotulação. Não que o aluno seja absolutamente isento de “culpa” neste processo. Mas as expectativas colocadas sobre ele também influenciarão em muito seu desempenho.
Pesquisas recentes apontam como fator importante, o olhar do professor, no que diz respeito ao sucesso ou fracasso no processo de escolarização que é em grande parte, construído na interação professor-aluno. Obviamente apenas esta interação e as expectativas depositadas no aluno pelo professor não são a único fator constituinte do desempenho deste aluno. Mas muitas destas pesquisas abordam o princípio da “profecia auto-determinada”, que afirma que os estudantes correspondem ou deixam de corresponder às expectativas dos outros. Desta forma se ele ouve todo o tempo “ele é terrível”, “vive aprontando”, e não ouve a respeito de si expectativas boas ou diferentes destas, ao que esta criança irá corresponder? Com o que irá se identificar? O aluno acaba sendo influenciado por aquilo que se espera dele. Uma pesquisa interessante de Rosenthal e Jacobson (Profecias auto-realizadoras na sala de aula: as expectativas dos professores como determinantes não intencionais da capacidade intelectual dos alunos) vem comprovar esta idéia. No experimento os professores de uma escola, foram informados no início do ano letivo que alguns estudantes haviam mostrado potencial de crescimento intelectual, quando na verdade , essas crianças haviam sido escolhidas aleatoriamente. Contudo, vários meses depois, muitas delas – principalmente da primeira de da Segunda séries - mostraram elevação incomum no QI. Outros pesquisadores confirmam este fato, de que as expectativas dos professores podem de fato funcionar como profecias auto-determinadas.
Podemos apontar três hipóteses muito usadas pelas escolas, por professores e pelos pais destes alunos para explicar o problema da disciplina ou da falta dela. Hipóteses estas que acabam reiterando alguns preconceitos no que diz respeito a explicação para o fracasso escolar.
A primeira hipótese explicativa é a do “Aluno Desrespeitador”. Nesta parte-se do princípio de que o aluno de hoje em dia é menos respeitador do que o aluno de antes. E que a escola atual teria se tornado muito permissiva, e a escola de antigamente era melhor. Neste sentido temos o fato de que a escola anterior a 1970 era para muito poucos, uma escola elitista, portanto não comparável com os modelos atuais. Além disso, podemos apontar a questão do respeito, que diz estar presente na escola de antigamente, mas que na maioria das vezes era conseguido na base da ameaça e do castigo. O respeito ao professor não deve vir do medo e da punição, mas da autoridade inerente ao papel do professor.
A Segunda hipótese explicativa é a do “Aluno sem limites”. Esta parte da suposição de que as crianças de hoje em dia não tem limites, não reconhecem a autoridade, não respeitam as regras, e a responsabilidade por isso é dos pais que teriam se tornado muito permissivos. Se prestarmos atenção nos alunos indisciplinados fora de sala de aula, num jogo coletivo por exemplo, veremos o quanto as regras são muito bem conhecidas pelas crianças. As crianças quando entram na escola, já conhecem muito bem as regras de funcionamento de uma coletividade qualquer. Neste ponto percebe-se uma certa justaposição entre os papéis dos pais e da escola, há a necessidade de se delimitar bem estes papéis, sendo que não é tarefa do professor moralizar a criança, função que estes acabam muitas vezes assumindo diante dos problemas do dia-a-dia. Tal comportamento é desaconselhável por três motivos: 1) se trata de um desperdício da qualificação e do talento específico do professor, 2) seria um desvio de função, porque o professor não foi contratado para tarefas que são paternas e maternas, 3) caracterizaria uma quebra de contrato pedagógico, porque o seu trabalho deixa de ser realizado.

Winnicott (teórico da psicologia) em sua vasta obra, em muitos momentos ressalta a importância de que nesta fase da vida o ser humano tenha uma relação estável (a mãe e/ou outras figuras familiares), para sua boa adaptação e aprendizado. É esta relação que apresentará o mundo a criança e a “ensinará” a ser um ser humano. Assim, como citado no inicio desta reflexão, John Bolby diz que para que possamos nos desenvolver satisfatoriamente existe a necessidade de sentirmos que existe alguém que nos apóia; um “porto seguro” pra onde possamos voltar se necessitarmos. Sendo assim, podemos concluir o papel fundamental que têm os pais e demais figuras familiares no desenvolvimento das crianças. Uma vez que se estes não puderem transmitir a segurança necessária para o bom desenvolvimento da criança, esta poderá ter experiências emocionais mais “perturbadoras” durante seu desenvolvimento.