quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Amamentação e desenvolvimento Psicológico da criança



O surgimento de uma nova vida é algo divino. A chegada de um bebê em uma família é uma experiência muito intensa. A relação mãe e filho e o vínculo entre eles iniciado na gestação e se concretizado no nascimento é visto de forma muito especial por diversos profissionais, especialmente os da psicologia. Um aspecto central deste vínculo é a amamentação, que além da importância nutricional, traz também influências psicológicas e emocionais para as crianças.
A psicóloga Silvia Maria Anaruma, psicóloga docente do departamento de Educação da UNESP, destaca a importância da amamentação como uma forma de superar o rompimento que acontece no nascimento. A amamentação resgata o calor e a segurança que a criança encontrava no útero; ameniza o rompimento e dá à mãe, que também é atingida por esta ruptura, a segurança que precisa nesta nova etapa. O desenvolvimento afetivo, então,  é iniciado nesta relação que se estabelece entre mãe e bebê e este começo poderá ser decisivo para criar um vínculo de amor e confiança.
Como parte da formação do vínculo de amor e confiança temos a satisfação oral que a amamentação propicia ao bebê. O estímulo oral, próprio desta fase, dá prazer e muitas vezes, vai além da satisfação nutricional, a criança recorre ao dedo ou à chupeta. O desmame precoce, antes de um ano de vida, pode prejudicar esta satisfação e a conseqüente formação futura da capacidade de confiar nos outros e na capacidade de dar e receber. O estabelecimento do vínculo é considerado como a contribuição principal da amamentação do ponto de vista psicológico. Vários trabalhos descrevem a importância do contato pele a pele e do toque para os bebês; prova disso é o método conhecido como “Mãe-canguru” usado na recuperação de bebês prematuros.
Silvia também destaca o desenvolvimento cognitivo, as pesquisas demonstram que crianças amamentadas até o fim do segundo ano, mostraram melhor desempenho escolar. A amamentação propicia um ótimo desenvolvimento cerebral por meio dos nutrientes e da interação, o leite materno protege os bebês de enfermidades que podem causar desnutrição e dificuldades de aprendizagem e audição; assegura também a interação frequente e expõe o bebê à linguagem, ao comportamento social positivo e a estímulos importantes e, finalmente, desenvolve maior agudeza e enfoque visual levando à melhor disposição à aprendizagem e à leitura. Estas são apenas algumas das evidências que foram exploradas com relação ao tema, mas suficientes para que se possa ter uma idéia das vantagens do aleitamento materno para um desenvolvimento mais satisfatório e saudável do ser humano
A amamentação é um ato emocional e físico, o contato aconchegante com o corpo da mãe fortalece o laço, ou vínculo emocional entre a mãe e o bebe. Evidentemente este vínculo também pode acontecer com a mamadeira, bebês que são alimentados com fórmula corretamente preparada e que tem da mãe toda a atenção e aconchego no momento da alimentação também desfrutarão dos benefícios psicológicos da formação deste vínculo; porém, infelizmente perderão os benefícios nutricionais. É fato também que a amamentação no peito facilita a manutenção deste vínculo por mais tempo, uma vez que a mamadeira pode favorecer uma certa distância entre mãe e filho, uma vez que outras pessoas diferentes da mãe podem a amamentar a criança; além disso, o próprio desenvolvimento motor do bebê propiciará uma certa autonomia e diminuição das oportunidades de contato mãe-bebê.
Obviamente muitas situações impedem a amamentação ou antecipam o desmame; situações de saúde, o retorno da mulher ao trabalho…. Não cabe aqui julgamentos. Mas é preciso ter sempre em mente a importância da formação de um vínculo estreito entre o bebê e a mãe; independente do método de alimentação.


Fonte: Desenvolvimento Humano – Diane E. Papalia e Sally W. Olds.
Aleitamento Materno e Desenvolvimento Psicológico da criança – Silvia Marina Anaruma-Depto de Educação instituto de 
Biociências – UNESP – campus Rio Claro.


sexta-feira, 24 de julho de 2009

LIMITES: DISCIPLINA NA MEDIDA CERTA

Em minha ultima postagem falei sobre a adolescência e a questão dos limites necessários a esta fase da vida. Pois bem, não é tão simples assim saber qual a medida destes limites que se pretende impor aos filhos.
O tão falado limite, e aqui podemos chamar também de disciplina, nada mais é do que um conjunto de regras éticas utilizadas para atingir um objetivo ou um resultado com menos recurso e em menos tempo. Portanto, os limites irão também desenvolver na criança/adolescente competências para a vida adulta.
Esse conjunto de regras pode ser obtido simplesmente pelo treino; adquirido pela experiência; aprendido por intermédio de alguém que atue como professor ou ainda absorvido pela imitação de um mestre – alguém que ultrapassa o limite de transmissor de conhecimentos e cativa a admiração e respeito. Aqui é importante observar que principalmente as crianças aprendem muito mais a partir do que observam nas atitudes dos pais, professores e outros adultos do aquilo que estes dizem que deve ou não fazer.
Deste ponto de vista ser um modelo prático daquilo que se quer que os filhos aprendam e sejam no futuro é o melhor caminho para se conseguir o que se quer. O velho ditado “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”, não funciona quando a questão são os limites e as regras para um filho. E é bem simples entender o porquê, os pais são os modelos de adultos para as crianças e adolescentes; desta forma irão se espelhar no que fazem e em como agem. Sendo assim se você cobra alguma ação de seu filho, esta tem que estar demonstrada em seus atos. Por exemplo: você quer o respeito de seus filhos, mas não tem a menor paciência com seus pais que já são idosos, briga com eles ao telefone e fala coisas desagradáveis sobre as cobranças que eles fazem a você na frente das crianças. Como pode querer que seus filhos tenham uma atitude diferente em relação a você?
Outro erro é colocar regras simplesmente “por colocar”, não discutir, não explicar as crianças o porque de se estar pedindo determinada coisa a elas. È importante para a criança e para o adolescente entender o motivo da regra, da proibição ou do limite de horário para chegar em casa. Quando estas coisas são colocadas evidenciando a preocupação e o amor embutidos nestes atos, fica mais fácil obedecer. Por exemplo: você “pega no pé” dele para tirar boas notas, não porque você é chato, mas porque se preocupa com o futuro dele, afinal ele irá crescer, se decidir por uma carreira e o que esta aprendendo hoje vai ser muito útil para que seja bem sucedido neste caminho.
E por fim retomo o que disse na ultima postagem: È preciso ter a justa medida quando se trata de limites - nem o autoritarismo nem a permissividade. Como disse há um equívoco no pensar que liberdade ilimitada em nome da democracia é mais educativa, isto pode criar o caos no desenvolvimento desse indivíduo, uma vez que crianças e adolescentes, via de regra, não possuem dentro de si discernimento, juízo e capacidade necessária para fazer bom uso da liberdade ilimitada. Por outro lado pais demasiadamente autoritários deixarão somente duas opções ao jovem: conformar-se ou rebelar-se. Mais fácil seria se os adultos conseguissem um equilíbrio entre ser coerentemente indulgentes e coerentemente firmes, sem tocar os dois extremos; aplicando leis de modo ponderado. Aqui cabe uma fase de alguém que aparentemente não tem nada haver com educação:. “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás (uma das frases mais conhecidas de che guevara - É preciso endurecer sem jamais perder a ternura). E é bem esta a medida que os pais deveriam encontrar : a firmeza daquilo que se espera da criança ou do adolescente, com o amor e a ternura que eles representam enquanto preocupação com o bem estar e o futuro dele.

Maria do Rosário Teixeira de Aquino

CRP 06/93348

segunda-feira, 22 de junho de 2009

CONFLITOS ADOLESCENTES

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência como o período da vida que vai dos 10 aos 19 anos. Nesta fase ocorrem pelo menos três fenômenos importantes do desenvolvimento humano:
• Do ponto de vista biológico, a puberdade, com o amadurecimento
sexual e reprodutor.
• Do ponto de vista social a passagem da infância para a vida
adulta, com a apropriação de papéis adultos e a autonomia em
relação aos pais.
• E a estruturação de uma identidade definitiva.
Existe uma diferença entre a puberdade e adolescência. A puberdade é um fenômeno predominantemente biológico e compreende fundamentalmente as transformações corporais, a aparição da menstruação, na menina, e da ejaculação, no menino. Quando usamos o termo adolescência, nos referimos ao componente psicológico do processo, que é constantemente determinado, modificado e influenciado pelo fator social.
A adolescência desde o inicio do século tem sido motivo de contínuos estudos, na tentativa de compreender o significado desse crescimento que traz mudanças físicas e psicológicas e que vem acompanhado de sofrimento e contradição. Neste momento o jovem tenta entrar no mundo adulto, tendo que, sem maturidade suficiente, encarar diversas mudanças em seu corpo. Querendo assim, afirmação e reconhecimento num meio que o trata hora como adulto, hora como criança.
Uma música dos Titãs traz esse conflito de uma forma bastante esclarecedora como se vê em alguns trechos:
“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia. Eu não encho mais a casa de alegria. Os anos se passaram enquanto eu dormia.” ... “Eu não tenho mais a cara que eu tinha, no espelho essa cara não é minha. Mas é que quando eu me toquei achei tão estranho a minha barba estava desse tamanho... Não vou! Me adaptar! Me adaptar”
A adolescência é uma etapa evolutiva onde se cristaliza o processo de aquisição da individualidade. Os processos biológicos que ocorrem nessa fase são universais, mas o modo como são vivenciados pelos jovens e a forma como são encarados pelos adultos são extremamente variáveis. O adolescente é um ser em busca de um lugar como indivíduo no mundo e a compreensão dessa busca é marco básico para aquele deseja ou precisa abordá-lo. A tarefa básica da adolescência é a aquisição da identidade pessoal, ou seja, a consciência por parte do indivíduo de ser uma criatura separada e distinta das demais.
A adolescência provoca uma ampla e profunda desestruturação de todos os níveis da personalidade, seguida de um processo de reestruturação, que passa por oscilações nas formas de exprimir-se e apresentar-se, ao longo de vários anos. A atitude do meio (família e sociedade) em que se desenvolve a crise da adolescência, e fatores da personalidade do indivíduo irão influenciar bastante este momento. Existem muitos seres humanos que, por razões de patologia social ou familiar, nunca passam por esta necessária crise e, portanto, nunca atingem os níveis superiores de maturidade seja intelectual, seja emocional. Quantas pessoas conhecemos que nos parecem eternos adolescentes, mesmo não tendo mais idade para tal?
Diante de tantas mudanças a “anormalidade” é normal nesta fase e a inquietude é a maior conseqüência. Contudo, essa inquietude provocará uma busca pela diferenciação de seus pais, de seus objetos da infância, e devido à ansiedade e crise geradas, a rebeldia desencadeará a desvalorização dos pais, a qual é necessária para que como dito acima o adolescente encontre seu lugar como indivíduo. Para tal diferenciação necessita negar o que até então foi um modelo seguido e imitado – os pais, para criar o seu próprio. Com suas crises e conflitos psíquicos o adolescente projeta essa sua confusão interior em seu meio familiar, fazendo com que todos desse ambiente adolesçam com ele. O adolescente também pode passar por momentos autísticos, nos quais diante de tantas idéias foge do mundo externo e se isola refletindo sobre a sua inconformação. Esse estado é ideal para o seu próprio conhecimento, e para a acomodação das novas idéias.
No entanto, toda essa agitação resultará na identidade adulta após identificações, experiências familiares, sociais e pessoais. É saudável para o desenvolvimento psíquico a quebra de aprendizados morais, religiosos e o questionamento de tudo e todos.
Uma questão crucial para os pais de adolescentes neste momento de tanta rebeldia e confusão é o tão falado “limite”. Os ataques frontais aos pais, vindos desta necessidade de independência da família, acabam por gerar críticas quanto a sua maneira de agir, vestir, amizades, gostos etc. Aproveitando essas circunstâncias o adolescente julga não haver vantagens em permanecer sob a proteção familiar como um escape para sua necessidade de independência. Embora esses ataques não visem destruí-los, mas apenas diferenciá-los. Esses adolescentes amam seus pais precisam de suas orientações e direcionamentos estabelecendo limites para seus próprios impulsos de independência.
Grande parte dos adultos traz dificuldades na relação com o adolescente quando se trata da autoridade e da liberdade. Constata-se em várias instituições educacionais e famílias a indecisão entre ser rigoroso ou indulgente, arbitrário ou democrata.
Há um equívoco no pensar que liberdade ilimitada em nome da democracia é mais educativa, isto pode criar o caos no desenvolvimento desse indivíduo. Os jovens via de regra, não possuem dentro de si discernimento, juízo e capacidade necessária para fazer bom uso da liberdade ilimitada. Pais demasiadamente autoritários deixarão somente duas opções ao jovem: conformar-se ou rebelar-se. Mais fácil seria se os adultos conseguissem um equilíbrio entre ser coerentemente indulgentes e coerentemente firmes, sem tocar os dois extremos; aplicando leis de modo ponderado.

Maria do Rosário Teixeira de Aquino

CRP 06/93348

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O ALUNO PROBLEMA

Nos dias atuais qualquer pessoa ligada ao cotidiano, ou as práticas escolares, tem conhecimento sobre a “crise da educação”. Os profissionais da área falam da existência de tal crise, mas não apontam sua extensão nem razões exatas. Alguns pais se deparam de muito perto com esta tal crise e seu atual “vilão”: o “aluno-problema”, que traz consigo certos distúrbios psicológicos e/ou pedagógicos, de natureza tanto cognitiva quanto comportamental. Entre os profissionais da educação é bastante presente a queixa de alunos indisciplinados e/ou incapacitados para aprender. Tais alunos muitas vezes chegam já na segunda e terceira séries do ensino fundamental rotulados como “casos perdidos”.
Uma das principais queixas dos professores para os psicólogos escolares é o pedido de ajuda de como lidar com a “bagunça” e agressividade de alunos. Algumas considerações devem ser feitas a este respeito. A primeira é que o conceito de disciplina varia conforme a exigência de cada um. A segunda é o fato de que a indisciplina é geralmente referida como distúrbio, desvio, como se o natural fosse a disciplina. Contudo a transgressão e a agressividade são inerentes ao ser humano e fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, principalmente quando nos referidos a períodos como pré-adolescência e adolescência (o que será assunto para um próximo artigo). Obviamente este fato não dá a estas crianças o direito de agredir e transgredir o que quiserem e quando quiserem, a imposição de limites é também fator determinante para o bom desenvolvimentos das crianças e adolescentes. A questão dos limites por sua amplitude e complexidade também será abordado em separado brevemente.
Um estudo feito por Áurea Guimarães em 1985 analisa a escola como lugar onde a idéia de que a disciplina produz saber, mantém-se, e é aceita e praticada por todos os membros da instituição escolar desde a figura do diretor até a dos alunos. Desta forma os comportamentos de indisciplina, e por vezes de depredação dos alunos acusam o descontentamento e as críticas a toda a instituição escolar. A imagem social da escola, se encontra ameaçada, há uma espécie de mal estar e uma falta aguda de credibilidade profissional, a respeito dos profissionais da área. Nossos filhos escutam falas depreciativas a respeito da escola e dos profissionais de educação dentro de casa. Que imagem de professores e da escola os pais estão ajudando os filhos a formar? O de um lugar de aprendizado e respeito ao professor ou a de uma instituição decadente, sem recursos com profissionais desmotivados. Aquilo nossas crianças têm ouvido de nós e da mídia a cerca da escola e dos professores as ajuda a formar uma boa idéia do que é a escola de seu papel e importância? Ou só ajuda a denegri-la ainda mais reforçando a idéia de que não se deve respeitar este espaço? Esta é uma questão para que cada um pense e veja que escola tem “pintado” para seus filhos. Pois o que as crianças ouvem falar a respeito do que pensamos é muito relevante para a opinião que irão formar a respeito do mundo.
Este “fantasma” do fracasso parece rondar a educação, e atualmente tem-se dado a este fantasma o rosto do “aluno-problema”. Este é aquele aluno que padece de certos supostos “distúrbios psico/pedagógicos”. Estes distúrbios podem ser de natureza cognitiva ou comportamental, nessa última categoria enquadra-se o que chamamos de indisciplina. Há ainda uma justificativa no meio pedagógico de que “se o aluno aprende, é porque o professor ensina; se ele não aprende, é por que não quer ou porque apresenta algum tipo de distúrbio, de carência, de falta de pré-requisito”. Aqui nos deparamos novamente com aquela linha de pensamento da culpabilização do indivíduo pelo fracasso, e de sua rotulação. Não que o aluno seja absolutamente isento de “culpa” neste processo. Mas as expectativas colocadas sobre ele também influenciarão em muito seu desempenho.
Pesquisas recentes apontam como fator importante, o olhar do professor, no que diz respeito ao sucesso ou fracasso no processo de escolarização que é em grande parte, construído na interação professor-aluno. Obviamente apenas esta interação e as expectativas depositadas no aluno pelo professor não são a único fator constituinte do desempenho deste aluno. Mas muitas destas pesquisas abordam o princípio da “profecia auto-determinada”, que afirma que os estudantes correspondem ou deixam de corresponder às expectativas dos outros. Desta forma se ele ouve todo o tempo “ele é terrível”, “vive aprontando”, e não ouve a respeito de si expectativas boas ou diferentes destas, ao que esta criança irá corresponder? Com o que irá se identificar? O aluno acaba sendo influenciado por aquilo que se espera dele. Uma pesquisa interessante de Rosenthal e Jacobson (Profecias auto-realizadoras na sala de aula: as expectativas dos professores como determinantes não intencionais da capacidade intelectual dos alunos) vem comprovar esta idéia. No experimento os professores de uma escola, foram informados no início do ano letivo que alguns estudantes haviam mostrado potencial de crescimento intelectual, quando na verdade , essas crianças haviam sido escolhidas aleatoriamente. Contudo, vários meses depois, muitas delas – principalmente da primeira de da Segunda séries - mostraram elevação incomum no QI. Outros pesquisadores confirmam este fato, de que as expectativas dos professores podem de fato funcionar como profecias auto-determinadas.
Podemos apontar três hipóteses muito usadas pelas escolas, por professores e pelos pais destes alunos para explicar o problema da disciplina ou da falta dela. Hipóteses estas que acabam reiterando alguns preconceitos no que diz respeito a explicação para o fracasso escolar.
A primeira hipótese explicativa é a do “Aluno Desrespeitador”. Nesta parte-se do princípio de que o aluno de hoje em dia é menos respeitador do que o aluno de antes. E que a escola atual teria se tornado muito permissiva, e a escola de antigamente era melhor. Neste sentido temos o fato de que a escola anterior a 1970 era para muito poucos, uma escola elitista, portanto não comparável com os modelos atuais. Além disso, podemos apontar a questão do respeito, que diz estar presente na escola de antigamente, mas que na maioria das vezes era conseguido na base da ameaça e do castigo. O respeito ao professor não deve vir do medo e da punição, mas da autoridade inerente ao papel do professor.



A Segunda hipótese explicativa é a do “Aluno sem limites”. Esta parte da suposição de que as crianças de hoje em dia não tem limites, não reconhecem a autoridade, não respeitam as regras, e a responsabilidade por isso é dos pais que teriam se tornado muito permissivos. Se prestarmos atenção nos alunos indisciplinados fora de sala de aula, num jogo coletivo por exemplo, veremos o quanto as regras são muito bem conhecidas pelas crianças. As crianças quando entram na escola, já conhecem muito bem as regras de funcionamento de uma coletividade qualquer. Neste ponto percebe-se uma certa justaposição entre os papéis dos pais e da escola, há a necessidade de se delimitar bem estes papéis, sendo que não é tarefa do professor moralizar a criança, função que estes acabam muitas vezes assumindo diante dos problemas do dia-a-dia. Tal comportamento é desaconselhável por três motivos: 1) se trata de um desperdício da qualificação e do talento específico do professor, 2) seria um desvio de função, porque o professor não foi contratado para tarefas que são paternas e maternas, 3) caracterizaria uma quebra de contrato pedagógico, porque o seu trabalho deixa de ser realizado.
Desta forma podemos apontar que muitas vezes a indisciplina parece ser resposta ao abandono das funções docentes em sala, porque só a partir do papel do professor evidenciado em aula, é que os alunos poderão ter clareza de seu papel.
A terceira hipótese explicativa é a do “Aluno desinteressado”. Esta diz que para os alunos, a sala de aula não é tão atrativa quanto os outros meios de comunicação. Da mesma forma que é preciso se distinguir o papel da família do da escola é preciso também distinguir o papel da escola dos de outros meios de comunicação, uma vez que não tem a mesma função. A função dos meios de comunicação é o da difusão informação, e esta sem dúvida não seria função da escola, que tem como objetivo principal a reapropriação do conhecimento acumulado em certos campos do saber. Na escola portanto, não se repassam informações simplesmente, ensina-se o que elas querem dizer, para muito além do que elas dizem. O que não exime as escolas de procurarem métodos que envolvam e chamem mais a atenção dos alunos que apenas lousa e giz.
O problema em relação a estas hipóteses é que são apoiadas em evidências equivocadas acabando por isolar a indisciplina como um problema individual do aluno, e esquivam-se de levar em consideração a sala de aula e a relação professor-aluno.
Enfim diante de uma questão tão séria como a crise na educação explicações tão simplistas como estas que ouvimos todos os dias de pais e professores, não podem ser assumidas como motivação para a crise. Esta tem fatores muito mais amplos, relevantes e complicados do que simplesmente a falta de limites, os problemas familiares e a falta de interesse de alunos individualmente. Até porque se fossem questões individuais, apareceriam como problemas isolados, e não envolveriam toda a escola e toda a rede de educação.

Para aprofundar-se:
AQUINO, Julio Groppa, A Indisciplina e a escola Atual, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de São Paulo, São Paulo, 1998.
MACHADO, AM, SOUZA MPR, As crianças excluídas da escola: Um alerta para a psicologia. IN: MACHADO, AM, SOUZA, MPR (org) Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
SILVA, Luiz CF, Possíveis incompletudes e equívocos dos discursos sobre a questão da disciplina, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Maringá, 1998.
SOUZA, Batriz P, Professora desesperada procura psicóloga para classe indisciplinada . IN: MACHADO, AM, SOUZA, MPR (org) Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
SOUZA, PR, A Queixa Escolar e o Predomínio de uma visão de mundo. IN: MACHADO, AM, SOUZA, MPR (org) Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
PATTO, Maria H. S, da Psicologia do “desprivilegiado” à psicologia do oprimido, IN: PATTO Maria H.S., Introdução a psicologia escolar, TAQ, São Paulo 1989.
ROSENTHAL, R, JACOBSON L, Profecias auto-realizdoras na sala de aula: as expectativas dos professores como determinantes não intencionais da capacidade intelectual dos alunos.IN: MACHADO, AM, SOUZA, MPR (org) Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

domingo, 24 de maio de 2009

COMO É BOM SER CRIANÇA....






“Os seres humanos de todas as idades são mais felizes e mais capazes de desenvolver seus talentos quando estão seguros que por traz deles existem uma ou mais pessoas que virão em sua ajuda caso surjam dificuldades” (John Bolby).


Ao ouvir a palavra infância qual a primeira coisa que lhe vem á mente? Período de alegrias, despreocupação... O pensamento de que naquela época é que você era feliz? Será que a vida das crianças é mesmo o “mar de rosas” do qual muitas vezes se fala? Quantas vezes já ouvimos frases como: “como é bom ser criança...” “criança é que é feliz...”
Já há algum tempo, ao menos para os profissionais da psicologia, a infância não é mais vista com um período “paradisíaco”, onde não existem preocupações, problemas ou sofrimentos. Já se sabe que conflitos advindos desta fase da vida podem interferir e muito na vida adulta dos indivíduos. Assim como as experiências de uma criança são muito importantes para o seu desenvolvimento, principalmente as que ela tem em seus primeiros anos de vida.
Mas... com base em que afirmo isso? O ser humano está em constante mudança desde o momento que nasce até minutos antes de morrer. Mas sem dúvida o período onde estas mudanças são mais abundantes e visíveis é a infância. A criança se desenvolve física, intelecto e emocionalmente, até mesmo em relação a seu comportamento. Sendo assim, uma criança apesar de seu tamanho e pouca experiência de vida tem que confrontar-se todo o tempo com adaptações e aprendizados dos mais diversos.
Obviamente todas estas adaptações demandam reações emocionais igualmente diversas, para as quais esta criança muitas vezes não esta preparada, uma vez que não tem maturidade, principalmente emocional, para lidar com muitas das questões suscitadas por suas experiências.
Quando pensamos na gama de situações e conflitos com os quais a criança tem que lhe dar durante seu desenvolvimento fica claro, apesar de nossas memórias poderem nos enganar a este respeito, que este não é um período tão isento de preocupações e sofrimentos quanto julgamos.
As mudanças emocionais e a forma como as crianças lidam com elas são particularmente importantes, pois irão determinar muito a formação de sua personalidade. As experiências de uma criança são importantes para o seu desenvolvimento, principalmente as que ela tem em seus primeiros anos de vida.
Tendo em vista a importância de tais experiências, que elementos na vida desta criança podem auxiliar seu desenvolvimento apesar de tantas dificuldades?
Winnicott (teórico da psicologia) em sua vasta obra, em muitos momentos ressalta a importância de que nesta fase da vida o ser humano tenha uma relação estável (a mãe e/ou outras figuras familiares), para sua boa adaptação e aprendizado. É esta relação que apresentará o mundo a criança e a “ensinará” a ser um ser humano. Assim, como citado no inicio desta reflexão, John Bolby diz que para que possamos nos desenvolver satisfatoriamente existe a necessidade de sentirmos que existe alguém que nos apóia; um “porto seguro” pra onde possamos voltar se necessitarmos. Sendo assim, podemos concluir o papel fundamental que têm os pais e demais figuras familiares no desenvolvimento das crianças. Uma vez que se estes não puderem transmitir a segurança necessária para o bom desenvolvimento da criança, esta poderá ter experiências emocionais mais “perturbadoras” durante seu desenvolvimento.
Outro recurso disponível para minimizar os sofrimentos da criança é o atendimento psicoterápico que atuará nos mais diversos conflitos e problemas comportamentais. Podendo ser uma forma de amenizar as conseqüências decorrentes das mudanças emocionais e da falta de maturidade de muitas crianças para lidar com elas; com vistas a reduzir ou até anular seus efeitos na vida adulta deste indivíduo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Primeiras reflexões


Esse blog tem como objetivo trazer reflexões acerca da psicologia na infância, além de ser apoio para pais e profissionais da área.